Embora proibidos no Brasil, os cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes descartáveis, tomaram-se cada vez mais populares nos últimos anos, principalmente entre os jovens, oferecendo uma alternativa conveniente aos cigarros tradicionais.
No entanto, o impacto ambiental do descarte desses dispositivos é muitas vezes ignorado e vem se juntar ao de computadores, celulares, notebooks, liquidificadores, mix, chapinha de cabelo, sanduicheiras, fogão, televisor, máquina de lavar, refrigeradores, ar condicionado, entre muitos outros itens que levam pilha ou bateria e que quando não servem mais acabam indo pro lixo. Esse é o problema. Não se trata de lixo comum e são altamente danosos ao meio ambiente.
Particularmente não tenho nada contra quem fuma cigarros eletrônicos, mas sim com o destino deles quando termina sua vida Útil, que vai de seis meses a um ano, depois, lixo. Sei ainda que fazem tanto mal ou até mais que os cigarros convencionais.
O número de fumantes de cigarros eletrônicos no Brasil cresceu 600% de 2018 a 2023. Segundo pesquisa do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), o número passou de 500 mil para 2,9 milhões usuários no
período. O problema é que esses dispositivos, como a própria classificação “descartáveis” sugere, combinam vários materiais como plásticos, metais e componentes eletrônicos, que apresentam inúmeras preocupações ambientais. Esses dispositivos de uso único, embora convenientes, aumentam o problema crescente do lixo eletrônico devido à sua composição complexa e às dificuldades inerentes à reciclagem de materiais mistos, especialmente aqueles com baterias de lítio.
Além dos problemas de gerenciamento de resíduos, os vapes descartáveis contribuem para o esgotamento de recursos, poluição ambiental por meio da liberação potencial de substâncias tóxicas e uma pegada de carbono (emissões de CO2e na atmosfera) nada insignificante.
Não bastassem os outros lixos eletrônicos cujo descarte se multiplicam a cada ano, sendo a reciclagem muito inferior ao montante gerado pela população global, agora tem os cigarros eletrônicos para complicar ainda mais a Situação — além de quantidade são muito difíceis de reciclar. A tecnologia trouxe muitos ganhos para a população, mas com ela vieram o lixo eletrônico. A geração mundial desses materiais está aumentando cinco vezes mais rápido do que a reciclagem, revelou em março deste ano o quarto Monitor Global de lixo eletrônico (GEM) da ONU. Os 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico gerados em 2022 encheriam 1,55 milhão de caminhões de 40 toneladas, quantidade aproximadamente suficiente para formar uma linha colada de para-choques com para-choques capaz de circundar o equador, conforme relatório da UIT e da UNITAR.
Entretanto, menos de um quarto (22,3%) da massa de lixo eletrônico gerada foi identificada como tendo sido devidamente recolhida e reciciada em 2022, deixando desaparecidos 62 milhões de dólares em recursos naturais recuperáveis e aumentando os riscos de poluição para as comunidades em todo o planeta.
Em todo o mundo, a geração anual de lixo eletrônico tem aumentado 2,6 milhões de toneladas anualmente, rumo a atingir 82 milhões de toneladas até 2030, um aumento adicional de 33% em relação ao total de 2022. O lixo eletrônico (tudo aquilo que você liga na tomada ou que utiliza uma pilha, uma bateria para funcionar) é um perigo para a saúde e o meio ambiente, contendo aditivos tóxicos ou substâncias perigosas como o mercúrio, que podem danificar o cérebro humano e o sistema de coordenação motora.
O relatório prevê ainda queda na taxa documentada de recolha e reciclagem de 22,3% em 2022 para 20% em 2030, por causa da diferença cada vez maior nos esforços de reciclagem em relação ao crescimento impressionante da geração de lixo eletrônico por todo o mundo. Os desafios que contribuem para o alargamento do fosso incluem o progresso tecnológico, o aumento do consumo, as opções de reparação limitadas, os ciclos de vida mais curtos dos produtos, a crescente eletrificação da sociedade, as deficiências de conceção e a infraestrutura inadequada de gestão do lixo eletrônico.
O relatório sublinha que se os países conseguissem aumentar as taxas de recolha e reciclagem de lixo eletrônico para 60% até 2030, os benefícios - nomeadamente através da minimização dos riscos para a saúde humana - excederiam os custos em mais de 38 milhões de dólares. Observa também que o mundo "continua incrivelmente dependente" de alguns países em termos de elementos de terras raras, apesar das suas propriedades únicas cruciais para tecnologias futuras, incluindo a geração de energia renovável e a mobilidade elétrica.
No contexto global o Brasil é o quinto maior produtor de lixo eletrônico. Por ano, o país produz 2,4 milhões de toneladas de lixo eletrônico e poderia ser muito mais. Segundo pesquisas, 85% dos brasileiros têm em casa algum aparelho que não usam e não sabem o que fazer com ele. A maior parte desse material é descartada de maneira irregular, quando poderia ser reciclada.
Como exemplo, no período entre janeiro e novembro de 2023, a organização sem fins lucrativos fundada pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica reciciou quase três mil toneladas desse tipo de material, montante que está muito longe do necessário. O Brasil só recicla cerca de 3% do lixo eletrônico que gera, segundo estimativas do setor.
E os danos ao meio ambiente causados pelo lixo eletrônico são imensuráveis e irreparáveis. Tomando como exemplo os vapes descartáveis, eles contribuem para a poluição ambiental de várias maneiras. À medida que se decompõem, as baterias e as placas de circuito podem libertar produtos químicos tóxicos no ambiente, enquanto os invólucros de plástico nunca se decompõem totalmente e, em vez disso, se transformam em microplásticos.
Os cigarros eletrônicos são compostos de diversas substâncias perigosas, como nicotina, hidrocarbonetos aromáticos policíciicos (PAHs) e elementos metálicos. Como se não bastasse, as baterias de lítio, caso não sejam descartadas adequadamente, podem causar incêndios em instalações de eliminação de resíduos.
Portanto, fica aqui um alerta aos consumidores brasileiros de cigarros eletrônicos. No Reino Unido, o Green Wings Project realizou uma pesquisa mostrando que uma parte significativa do impacto ambiental desses dispositivos descartáveis decorre das baixas taxas de reciclagem. Segundo o levantamento, 75% dos usuários de lá admitem que nunca reciclam os seus dispositivos usados. E volto a afirmar, os vapes eletrônicos são difíceis e caros de reciclar por serem feitos da mistura plástico/cobre/bateria de lítio, que não podem ser separados um do outro.
Assim, em se tratando de Brasil, se considerarmos a taxa de reciclagem de lixo eletrônico e aplicá-la ao caso dos cigarros eletrônicos, temos um problemão, uma vez que a falta de consciência dos consumidores aliada ao aumento no consumo se constitui em mais uma grave ameaça ao nosso meio ambiente.
Diante dessa disso, o melhor então não seria que os fumantes ficassem restritos ao cigarro tradicional?
Pode ser, ao menos o meio ambiente estaria sendo poupado de mais esse lixo dos vapes.
Fonte: Jornal de Uberaba
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